15 de fevereiro de 2013

Um destinatário para a saudade

Pelas frestas da memória visito o meu estoque de recordações, vejo os dias passarem inclementes, desbotando saudades, enquanto eu insisto em tecer a vida com os fios da esperança...
Faço um inventário das minhas saudades e penso: reconstruir é um processo difícil e doloroso, pois a vida e suas urgências tentam ensinar-me a abrir mão de pessoas, coisas e lugares que não consigo.
Encaixotando minha vida, encontrei meu baú da “pátria de intimidades”... Velhas fotografias, cartas de amor e pedaços de carinhos, pensei: na minha vida ninguém está de passagem e, por isso, meus afetos também não têm prazos de validade.
Como posso esquecer pessoas, cheiros e lugares que ficaram marcados na minha existência?
Como esquecer o que me remete a uma alegria escancarada, se em todas as minhas lembranças há sempre um rastro de felicidade?

Por tudo isso, parece que o meu destino é não aprender a dizer adeus, pois no enredo da minha vida não há um alvará de soltura para a saudade.
Rabisco em meu corpo marcas eternas, mas preservo-me a alma nas pontas dos dedos para que o verbo caiba no universo dos meus sonhos e a saudade brinque de rabiscar novas cores...

Sigo brincando com as palavras, garimpando vocábulos que escondem o que sinto e brinco de enganar a dor. Quando chove saudade, deságuo pensamentos e manuseio o alfabeto tornando meus devaneios, meus gritos de apelo...

Saudade... de quem? De quem nem sei mais quem sou...

Vagando no meu mundo à deriva da minha imensidão, deixando que o sal das lágrimas aumentem o brilho do meu olhar e a inquietação das palavras, quase sempre mal compreendidas, remetam-me às lembranças do que NUNCA DEIXEI DE SER...
Há quem me acuse de saudosista e de viver no passado. Cobram-me até por frases que se tornaram obsoletas e que eu as pronuncio. Dizem ser por absoluta incapacidade de abrir mão do que ficou pra trás. Não sei se isso é fato, o que sei é que ando sentindo falta de tanta coisa, que só brincando com as palavras consigo trazer para perto de mim, um pouco do muito que perdi para esse admirável mundo novo...

Simplesmente Kel... Pekena

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